sábado, 4 de agosto de 2012

Igrejas podem ser obrigadas a pagar para cantar músicas gospel

Comentário do Bispo Paulo Ayres, emérito da Igreja Metodista e Presidente da Diaconia, no Recife, sobre a regularização do pagamento de Direitos Autorais pelo uso das músicas golpes nas igrejas.


Gente metodista e evangélica em geral, Graça e Paz! Não creio que em nossos dias nos deve surpreender ou causar escândalo as investidas de grupos econômicos e financeiros no campo religioso. Quando tudo na sociedade do capitalismo tardio sob o qual vivemos tem se tornado em commodity (não é só soja, açúcar, milho ou ferro que hoje são commodities, mercadorias com valor agregado ou não; produtos culturais como a música também são commodities hoje! Inclusive a música gospel!), não é de se estranhar que a música gospel também tenha tornado-se numa commodity.


Não é à toa que a teologia da prosperidade achou guarida em nossas igrejas evangélicas (não são só as neo-pentecostais que pregam a teologia da prosperidade; nas evangélicas tradicionais, como a nossa metodista, encontram-se muitos de seus líderes e membros defendendo tal teologia). É por isso que a a gravadora do mais poderoso grupo empresarial em comunicações em nosso país resolveu co-optar algumas das mais importantes vozes da música gospel evangélica, já que as católicas desde o início do movimento tinham sido co-optadas – “business is business”, não discriminando classe, cor, gênero, sexo, religião ou idade. Evito nomear toda essa galera toda para evitar óbvios problemas, mas quem está por dentro do assunto sabe a quem me refiro.


Como gosta de dizer o ex-ministro Delfim Neto, numa sociedade capitalista “não há cafezinho de graça”, inclusive no mundo gospel. É por isso que muiita gente do mundo gospel cobra cachê, pois estão no fundo vendendo uma mercadoria. Não é mais louvor a Deus para edificação do seu povo e evangelização do mundo; não! É meio de acumular-se capital, quer financeiro, quer simbólico. E aí vem o pregador da vitória em Cristo gabando-se de que conveceu o dono da vênus prateada a apresentar no horário dominical das 13 horas a galera da música gospel evangélica. Pensando ele que manipulou o todo-poderoso da midia brasileira, não quer se dar conta que está negociando com o próprio cramunhão da mídia brasileira, pois como disse Jesus, o cramunhão, se for possível, enganará até aos escolhidos….


A música gospel em si não é certa nem errada, pode ser boa ou ruim; e não se trata aqui de ser a favor ou contra o uso da música contemporânea em nossas assembléias litúrgicas, pois este debate seria uma grande asneira – toda música pode servir para glória de Deus, não importando se antiga ou moderna, erudita ou popular, samba, xaxado, baião, rock, gospel, o que for – “todo ser que respira, louve a Deus…”. Entretanto, hoje, como commodity (mercadoria com valor agregado ou não) para quem está por detrás dos CDs e dos DVDs tem que dar lucro… isso é o quê interessa.. o resto não tem pressa [o poder da mídia não é fácil!]! Oportuno o competente esclarecimento de nosso irmão Dr. Roberto Machado. O que fica claro é que, ao menos por enquanto, não há cobrança dos direitos autorais por parte dos “propietários” do dom do Espírito Santo, mediante a intervenção da ECAD, por simples generosidade deles e delas.


Na meca do capitalismo, os Estados Unidos, isto já está imperando de forma avassaladora… igrejas para cantarem as músicas contemporâneas têm de pagar por seu uso nos cultos e reuniões públicas. Logo, logo, isto poderá estar valendo também para as igrejas tupiniquins. Talvez será por isso que teremos de voltar a cantar os velhos hinos de Isaac Watts, Charles Wesley, Fanny Crosby, traduzidos para o português por da. Sarah Poulton Kalley e pelo Rev. Henry Maxwell Wright, pois tais hinos agora são de domínio público e, como seus autores já estão na glória, não há como cobrar direitos autorais sobre o que está nos nossos Salmos e Hinos, Hinário Evangélico, Harpa Cristã, Cantor Cristão e etc.


Enquanto a nova reforma não vem para a Igreja de nossos dias vamos ter de conviver, como Wycliffe, Huss e Savanarola nos tempos pré-Lutero, com os vendilhões do templo que negociam dentro da Casa de Deus a salvação, a cura, a libertação, a transformação das vidas das massas primeiro iludidas e depois decepcionadas com a (des)graça imperando em nossas comunidades, (des)graça travestida de Evangelho, enchendo as contas bancárias dos famigerados “homens de Deus” da mída eletrõnica e macaqueados como simulacro por muitos dos pastores e pastoras evangélicos, inclusive em nossa amada Igreja Metodita. Essa música gospel a serviço da teologia da prosperidade, pela ganância e avidez de muitos de seus agentes por popularidade e sucesso financeiro, bem que poderia estar com seus dias contados. Que os anjos pudessem dizer, AMÉM!