segunda-feira, 13 de agosto de 2012

A IGREJA QUE HENRIQUE VIII NÃO FUNDOU


VENHA FAZER UMA EXPERIÊNCIA DE FÉ COM O DEUS VIVO E VERDADEIRO, A IGREJA ANGLICANA QUER LHE AJUDAR A ENCONTRAR-SE COM DEUS.

NOSSO ENDEREÇO:
AV. LOTUS, 570 (LÁ NO FINAL DA AV.).
NELSON COSTA - ILHÉUS.

NOSSO CULTO EUCARÍSTICO:
DOMINGO ÀS 9:00H.



Qual o anglicano que já não cansou de ouvir a “história” de que o rei inglês Henrique VIII é o fundador da Igreja da Inglaterra? É isso que se ensina nas nossas escolas, e a coisa passa como conhecimento comum. No entanto, isso é inteiramente falso.

Daí, em consequência dessa “história”, muitos membros da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil pensam seja a sua Igreja um produto da Reforma, diferindo apenas em coisas de somenos importância das denominações que se originaram nesse movimento do século XVI. Dele surgiram denominações Luteranas (derivadas dos seguidores de Martinho Lutero), Presbiterianas e Congregacionalistas (derivadas dos seguidores de João Calvino, por isso chamadas “Calvinistas”), e Metodistas, cujo aparecimento se deu por volta de 1800.

Todas essas denominações estabeleceram por si mesmas os seus ministérios. Até a Reforma havia tão somente um ministério cristão. E este ministério era e ainda é algo contínuo desde o inicio do Cristianismo, pela não rompida sucessão de ordenações de Bispos. É o ministério católico de Bispos, Presbíteros e Diáconos. A corrente de sucessivas delegações de autoridade ministerial derivou dos Apóstolos, sem nunca haver sido rompida. É o ministério com o qual nós, os anglicanos, estamos familiarizados.

Sem dúvida alguma, havia grande corrupção na Igreja medieval, particularmente na hierarquia de Roma. Era mais que urgente uma reforma. E nós, como anglicanos, não podemos condenar a quebra que os reformadores provocaram nessa sucessão, com a perda da autoridade derivada dos Apóstolos para representar o Senhor como Seus ministros. Foi isto que os reformadores fizeram, e as Igrejas surgidas pela ação deles são novas Igrejas, que datam da Reforma. E a Reforma, enfrentando oposição e ganhando força, chegou a extremos, destruindo coisas que antes deveria purificar e preservar.
 
Se fosse verdade que Henrique VIII fundou a Igreja da Inglaterra, nossa Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e toda a Comunhão Anglicana não deixaria de ser criaturas da Reforma, em pouco diferindo daquelas denominações nascidas do rompimento com a Igreja Católica. Isso, porém, não é verdade, ainda que comumente, em muitos livros escolares assim seja ensinado. Portanto, será bom que se esclareçam os fatos históricos relacionados com a Igreja Anglicana.
 
Henrique VIII não permitiu a interferência papal nas questões do seu país, ficando contrariado quando o Papa negou declarar nulo seu casamento com Catarina de Aragão. Seria um ato comum naqueles tempos, - já havia diversos precedentes, - mas o Papa estava pressionado por questões políticas da Espanha e Alemanha, não atendeu o pedido. E o rei pôs fim à autoridade, interferência e jurisdição papal na Inglaterra, chamado-a a si mesmo. Então, em represália, Henrique foi excomungado (“afastado da comunhão com a Igreja”) pelo Papa. Mas a Igreja na Inglaterra permaneceu como sempre fora, quer dizer, praticamente com as mesmas igrejas, os mesmos bispos e sacerdotes, as mesmas dioceses, os mesmos ofícios e os mesmos fiéis. A história registra o inexpressivo número de clérigos que ficou ao lado do poder papal. Mais tarde, o rei suprimiu as ordens religiosas e confiscou suas propriedades.
 
Se isto significa a fundação de uma nova Igreja, então Henrique fundou uma. No entanto, não significa! “Seria como um indivíduo trocar de identidade pessoal simplesmente por lavar o rosto, barbear-se e corrigir o penteado.”
 
Após a morte de Henrique VIII, seu filho Eduardo VI o sucedeu. Sendo menor, seu curto reinado foi dirigido por regentes. Estes haviam aprendido os ensinos não só de Lutero, mas também os de Calvino e até de Zwinglio. E trabalharam para sujeitar a Igreja da Inglaterra aos pontos de vista destes Reformadores. O Arcebispo Cranmer não quis ou não pode resistir.
 
Em 1549 aparecera o primeiro Livro de Oração Comum. Aquelas mesmas pessoas continuaram a lutar para entregar a Igreja aos reformadores do continente, e, em 1552, o segundo Livro de Oração foi imposto à Igreja. Representava ele importante passo no rumo dos referidos reformadores. No entanto, seu uso não foi geral devido à morte do rei e a subida ao trono de Maria, a Sanguinária, e seu marido espanhol.
 
Após sua coroação, a comunhão com Roma foi restabelecida, os Livros de Oração foram postos fora da lei, a missa em latim restaurada, também restaurada a autoridade papal, e tudo voltou a ser como antes do rompimento de Henrique VIII com Roma, exceto no referente às ordens religiosas. Onde estava, agora, a nova Igreja de Henrique, supondo-se que ele a houvesse fundado?
 
Durante o reinado de Maria, serviram à Igreja todos os mesmos bispos e outros clérigos anteriores a ela. Alguns, é claro, haviam morrido, e outros os sucederam. Mas as mudanças de pessoas, no tempo de Henrique e depois dele, foram as trocas normais impostas pelo tempo, exceto, com referência a cerca de 300 que Maria queimou como hereges (sendo os mais notáveis entre eles Cranmer, Ridley e Latimer).
 
Assim, a existência da Igreja da Inglaterra foi contínua, desde os tempos anteriores à briga de Henrique VIII com o Papa até a ascensão, em 1558 da rainha Isabel I. Quando esta ocupou o trono, a Igreja da Inglaterra estava, de fato, em plena comunhão com Roma e assim continuou por vários anos. Mas havia na Inglaterra, no entanto, pessoas influentes, entre clérigos e leigos, que desejavam uma reforma eclesiástica e sobretudo se opunham à influência papal. Não quis ela enviar representantes ao Concílio de Trento, então reunido. E desejou prosseguir na reforma eclesiástica e estabelecer, uma vez mais, livros de ofícios religiosos. A Igreja, no que respeita à mudança de pessoas, continuou normalmente.
 
Houve trocas e novos bispos foram sagrados, e também presbíteros ordenados para lugares vagos.

A política de Isabel esgotou a paciência das autoridades romanas. Uma bula foi planejada para depô-la e excomungar seus súditos que continuassem a reconhecê-la como soberana. (Alguém poderia pergunta aqui se não foi, na verdade, o Bispo de Roma que se afastou e deu vida independente à Igreja da Inglaterra com esta excomunhão?). Tal coisa não foi bem recebida na Inglaterra, pois não parecia possível que um papa depusesse um soberano inglês. Permaneceu o povo leal à rainha e daí veio o fim da comunhão entre a Igreja Inglesa e a Sé Romana. E a Igreja da Inglaterra continuou com as mesmas Dioceses, os mesmos Bispos, os mesmos Presbíteros, as mesmas Paróquias e os mesmos fiéis. Não houve interrupção naquela continuidade, não obstante o período da ditadura de Cromwell.
 
Façamos aqui uma pausa para olhar esta história tão conhecida e nos perguntar em que ponto a velha Igreja da Inglaterra terminou e a nova foi fundada. Evidentemente, nenhuma nova Igreja foi fundada por Henrique VIII ou por qualquer outro. A Igreja da Inglaterra é a mesma que existiu desde o tempo dos Celtas, os dias de Santo Agostinho... E suas filhas, incluindo a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, têm o mesmo ministério que existia nas Ilhas Britânicas desde os tempos dos Celtas, a partir do século II, e depois com a chegada de Agostinho e seus monges à Cantuária, no final do século VI, e a união das duas tradições no século VII, que envolve o começo e o estabelecimento missionário da Fé Cristã naquelas ilhas. Daí, estão equivocadas e erram aquelas pessoas quando pensam que esta parte da Igreja Una, Santa Católica e Apostólica de Cristo surgiu na Reforma, diferindo em coisas sem importância das igrejas luteranas, calvinistas e metodistas, cujos ministérios foram por elas mesmas criados.
 
A origem apostólica do ministério de nossa Igreja Anglicana está na Sucessão Apostólica, coisa familiar a todos nós. No entanto, a importância essencial desta continuidade não se faz bem clara por vezes. Uma ilustração talvez ilumine o assunto. Entre os deveres de um presbítero está a declaração de absolvição (ver o Rito de Ordenação de Bispos). A absolvição é equivalente a “teus pecados são perdoados”. Certamente estamos recordados como os judeus denunciaram nosso Senhor por ter dito isso a um doente que curou. E o fundamento da denúncia era que isso representava uma blasfêmia, já que só Deus pode perdoar pecados, proposição que o Senhor não havia negado. Mas não era blasfêmia: Ele recebera autoridade do próprio Deus.
 
Também lembramos que nosso Senhor disse a Seus Apóstolos que os pecados que perdoassem seriam perdoados, e os que retivessem seriam retidos, já que recebiam o poder (autoridade divina) de pronunciar a absolvição, não por si mesmos mas como representantes de Deus. A perpetuação do ministério requeria a delegação da autoridade apostólica a seus sucessores, os bispos. Isso é de importância suprema na Sucessão Apostólica. E os bispos delegam parte de sua autoridade aos presbíteros. Em nosso Livro de Oração Comum (no Ordinal, isto é, ritos de ordenação) encontramos esta autoridade dada aos presbíteros, em sua ordenação: “Aqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão retidos”. Mas certamente que não se deve esquecer que é Deus, agindo por meio de seu ministério autorizado, quem realmente perdoa.
 
Esperamos que esta ilustração esclareça a necessidade de Autoridade Apostólica e o seu efeito. A absolvição, no entanto, não é o único poder transmitido por essa sucessão. Se nossa Igreja fosse como as Igrejas Reformadas, com seu ministério por elas mesmas criado, a Autoridade Apostólica não existiria para ela.
  
As comparações são sempre odiosas, mas não podemos esquecer os inestimáveis benefícios que recebemos de nossa ligação com a Igreja dos Apóstolos. Na Autoridade Apostólica que possuímos por meio da Sucessão, nossa Igreja tem algo indispensável para amar e proteger, o que uma Igreja fundada por um rei não possuiria. Temos de proclamar, em todas as oportunidades que é falso dizer que Henrique VIII fundou o Anglicanismo. O que se passou na reforma da Igreja da Inglaterra foi a separação de Roma, o rompimento da comunhão com ela. O que houve foi uma divisão. Séculos antes tinha havido outra divisão, quando Roma rompeu com a grande Igreja de Constantinopla. Nenhum dos corpos então separados - Romano, Ortodoxo, Anglicano - constituiu uma nova Igreja. São, isto sim, pedaços da IGREJA.

Nosso “Livro de Oração Comum” (veja-se o título) contém “Administração dos Sacramentos e outros Ritos e Cerimônias da Igreja”. Igreja, aqui, se refere à Igreja de Deus, cuja fonte e fundamento é Jesus Cristo. E precisamente dessa Igreja descendemos, através dos Apóstolos.