domingo, 2 de setembro de 2012

PAIS AUSENTES, FILHOS INFELIZES

*Por Rev. Sergio Andrade - Catedral Anglicana da Santíssima Trindade - Recife.

NOSSO ENDEREÇO: AV. LOTUS 570, NELSON COSTA - ILHEUS.

NOSSO CULTO: DOMINGO ÀS 9:00h.


As constantes demandas da agitada vida pós moderna parecem colaborar para a fragilização das relações entre pais e filhos. Os afazeres e as exigências da sustentabilidade, das aquisições e da melhoria da condição de vida podem se revelar, ao longo do tempo, uma tremenda armadilha que corrói os laços familiares.

É também por estas razões que não se torna tarefa difícil encontrar adolescentes e jovens bastante desorientados, desanimados e, muitas vezes, profundamente inconformados com as relações estabelecidas com seus pais. O silêncio, a sonolência e a aparente quietude podem revelar outras condições d’alma. Quem sabe é saudade dos braços, da companhia e da segurança que se foram.

A falta de disponibilidade de tempo exige dos pais algum tipo de atitude compensadora. É mais comum do que se imagina encontrar pais que trocam a impossibilidade da presença pelo direito à posse e à liberdade. Afinal, dizem eles: “se não podemos permanecer e dar atenção aos nossos filhos, que pelo menos comprem o que desejam, vivam livres e façam suas escolhas”.

É assim que inúmeros adolescentes e jovens conhecem novos mundos e muitas pessoas. Lançados à vida pelas ausências.

Não basta dar dinheiro e dizer: “Vá!”. Outras perguntas se apresentam: “vai para onde? Vai com quem? Vai para que? Vai e volta?”. Dinheiro e liberdade solicitam a presença de diretrizes, diálogos e orientações. Sem estes, tais ingredientes tornam-se geradores de tragédias, dores e perdas irreparáveis, muitas das quais envolvendo outras famílias, pais e filhos.

Sem moralismos, é urgente franquear os ouvidos. Destituídos de qualquer iniciativa castradora, é necessário conhecer amigos, companheiros e namoradas. Despojados de uma pretensa sabedoria, é preciso conversar abertamente sobre tudo: causas e consequências; ganhos e perdas; oportunidades e desastres; prazeres e responsabilidades.

Com tais palavras não pretendemos reinaugurar o controle dos pais sobre os filhos. É evidente que adolescentes e jovens devem crescer em busca da autonomia futura e, para tal, devem ser instados a construir seus caminhos. Sabemos que Rubem Alves tem razão ao dizer que “eles procuram os olhos dos pais não é para se certificar de que estão sendo vistos mas para se certificar de que não estão sendo vistos! Aos pais só resta contemplar, impotentes, o voo dos filhos, sabendo que eles mesmos não podem ir. Nos espaços por onde seus filhos voam os ninhos são proibidos. Mas eles terão de voltar ao ninho, mesmo contra a vontade. E o pai se tranquiliza e pode finalmente dormir ao ouvir, de madrugada, o barulho da chave na porta: ‘Ele voltou...

É a volta que nos interessa. Só retornará aquele que partiu sabendo que o amor, o cuidado, o ensinamento e a presença dos pais estiveram com ele sem trocas, barganhas, compensações e ausências.


Afinal, não foi isso que Jesus também nos ensinou ao contar a Parábola do Filho Pródigo?