quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Entrevista de Ivone Gebara (parte 3)

feminismandreligion.com

  Mas de que maneira e com quais argumentos a senhora busca desconstruir esse discurso de que o aborto é pecado?

  Acho que nenhum argumento convence os patriarcas da igreja porque, na realidade, eles têm um poder sobre o corpo das mulheres. Quando você pergunta para uma mulher se Deus é homem ou mulher, o que ela responde? Homem. A partir daí você já tem a essência dessa pessoa habitada pelo poder masculino. Nós, teólogas feministas, dizemos o contrário. Acreditamos que quem me habita sou eu. Não defendo o aborto, apenas reconheço que ele existe. Assim como não defendo que ninguém se drogue, mas reconheço a existência do sério problema das drogas. A igreja utiliza o argumento do respeito à vida, mas o próprio governo da igreja nunca respeitou totalmente as vidas. Sempre existiu o controle dos pensamentos, dos corpos, caça às bruxas. Eles sempre fizeram essas coisas. Esse negócio de 'o princípio da vida' não se sustenta. Esses princípios não dão às mulheres o direito à escolha. As igrejas não podem impor suas ideologias a todos os cidadãos de um país. É preciso cultivar uma educação, seja nas escolas, nos partidos ou nos meios de comunicação, que as pessoas sejam capazes de avaliar o que é melhor para elas e fazerem suas escolhas de modo consciente. E também é necessário que haja uma assistência digna porque o aborto é um problema de saúde pública, que causa muitos transtornos para as mulheres e para as famílias.

  Esse domínio patriarcal atinge não somente as mulheres, mas todos os que não são considerados 'tradicionais' ou estão distantes do ideal imposto pela sociedade. E isso inclui os homossexuais. Qual a sua opinião?

  Ninguém pode colocar o amor entre pessoas dentro de um modelo preestabelecido. Pode ser um homem ou uma mulher, dois homens, pode ser uma mulher transexual, pode ser um travesti, o amor é amor. Quem pode determinar quem eu tenho que amar? Quem pode determinar que a melhor sexualidade ou melhor orientação sexual é esta ou aquela? Se é recíproco, se existe amor, cuidado, respeito, não deve haver regras.

 CLIQUE AQUI para ler a entrevista completa. Texto extraído de http://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1776561-o-governo-da-igreja-nunca-respeitou-totalmente-as-vidas.