Irmãos e Irmãs,
“Digo isto porque sabemos tempo que já é hora de vos despertardes
do sono; porque agora está mais perto de nós a salvação, do que quando
recebemos a fé”. (Rom 13:11)
O Advento é tempo de preparação. A Igreja celebra cada ano esta
quadra que deve significar para nós um momento de mergulho para dentro
de nós mesmos e percebermos até onde estamos preparados para receber o
“Bendito que vem em nome do Senhor”! A coleta do Primeiro Domingo do
Advento nos exige rejeitar as obras das trevas e vestirmos das armas da
luz o que parece ser uma linguagem militar, de confronto claro, onde não
é possível se ficar neutro. Para alguns isso pode parecer uma linguagem
exagerada! Mas, dispensando o imaginário de uma batalha literalmente
renhida, o Advento é tempo de deixarmos claro que projeto de vida e de
sociedade o Principe da Paz deseja para a humanidade.
Nossa sociedade está estruturada sobre uma ideologia do consumo e da
coisificação de tudo. Estamos assistindo uma excêntrica exploração da
festa do Natal pelos poderosos deste mundo. Vivemos um espécie de
síndrome de Herodes. Explico: o interesse de Herodes de ver o Menino não
era para adora-lo, como disse aos Magos. Assim também o mercado não
quer saber de Jesus. Quer saber de lucro, de consumo. O que menos
importa é o Menino. Aliás, muitos meninos e meninas, como Jesus, estão
jogados à própria sorte em nossa sociedade. Meninos e meninas não
interessam, a menos que sejam consumidores!
Humildade, diz o mercado, é coisa para quem não tem ambição. Mas se
esquecem que o Menino Deus se humilhou, se desconstruiu a si mesmo como
Deus supremo para assumir a nossa natureza. A Igreja, neste tempo, é
chamada a assumir também a humildade de Jesus e acolhe-lo como uma
criança, frágil, sem teto e num universo de incertezas.
Onde estaremos nós durante este tempo de Advento? Estaremos orando e nos
preparando para cantar o Gloria in Excelsis Deo, quando chegar a noite
do Natal? Estaremos esvaziados de nossas preocupações consumistas no
frenesi das lojas, dos shoppings, das festas (algumas delas de pura
aparência), ou daquilo que o mercado configura indevidamente como
espírito de Natal? Estaremos redescobrindo a solidariedade? Estaremos
pedindo a Deus que nos afaste das obras de injustiça? Se estamos neste
caminho, dou graças a Deus!
O encontro com o Menino Deus é experiência transformadora. Mas para
isso precisamos nos preparar com disciplina para que em nós se manifeste
a graça divina, a sabedoria para distinguir entre as obras das trevas e
as obras da luz. As primeiras escravizam nossos espíritos. As segundas
nos fazem sentir livres, disponíveis para Deus! Que caminho queremos
seguir?
As obras das trevas são multiplicadoras de exclusões, de violência
contra os mais fracos, de vaidades que não preenchem a real necessidade
das pessoas humanas. As obras da luz geram respeito, justiça,
libertação! Sigamos as obras da luz e assim estaremos livres para
acolher o Menino Deus!
Um abençoado tempo de Advento para tod@s nós!
++Francisco
BISPO PRIMAZ DA IEAB