Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia. Mateus 28:6
A Igreja cristã está mais uma vez desafiada a viver nesta Semana
Santa a passagem da angústia para a alegria, da morte para a vida, da
derrota para a vitória! Este é o tempo que vivemos e nos identificamos
com o caminho de Jesus, em seu embate contra um sistema opressor
política e religiosamente, gerador de imensuráveis dores e divisões.
Dois mil anos depois, mudaram os personagens da história, mudou a
tecnologia, o conhecimento científico, a cultura, mas a lógica continua a
mesma. Uma lógica de morte. As cenas que vivi recentemente em minha
viagem a Rondônia ainda estão vivas na minha memória. Eu vi seres
humanos abandonados à própria sorte, lutando em condições desiguais para
sobreviver e afirmar sua dignidade. Eu vi vítimas de violência de
gênero (na visita à Casa Noeli Santos) que parecem implorar a cada
minuto por sua dignidade e seu direitos no meio de uma sociedade
indiferente ao seus mais legítimos desejos.Em cada olhar e cada gesto
daqueles irmãos e irmãs pessoas eu pude imaginar o quanto Jesus sofreu
as nossas dores. Não falo somente as físicas, mas igualmente as
emocionais e espirituais. E reforcei ainda mais a minha convicção de que
só podemos continuar a nossa caminhada por fé e confiança na
providencia divina.
Nossa sociedade está profundamente doente e segue insensível às
barbáries que acontecem no nosso cotidiano Somente a fé nos sustenta
através da experiência da Ressurreição. Através da Ressurreição de
Cristo temos certeza de que a lógica da morte e do “presente século”
está vencida definitivamente. O túmulo está vazio e a morte
envergonhada. É essa fé que nos move na direção do outro(a) e do mundo. É
essa fé que nos move a enfrentar pela palavra e pela ação as potestades
deste século. Poderes sentados em seus confortos de uma engrenagem que
só lhes beneficiam, mas que envergonham os céus. Mas estes poderes nada
podem contra Aquele que ressurgiu dos mortos e “não está mais aqui”!
Que nossa IEAB experimente profundamente a força do evento pascal.
Para além da forma e beleza litúrgicas devemos viver a Páscoa em nossos
corações, capacitando-nos sempre a teimar, a anunciar e a transformar
nossa sociedade. A dor, o sofrimento e o choro dos excluídos, fracos e
pobres serão convertidos em alegria eterna e nós, como seguidores de
Cristo, somos chamados a manter a fé e a esperança em solidariedade com
nossos irmãos e irmãs mais fracos. Que a força do Cristo Ressurreto seja
a razão do nosso ministério e que não nos acomodemos, mas tenhamos
coragem de anunciar que a injustiça não prevalecerá!
Uma abençoada Páscoa do Senhor!
++ FRANCISCO
Bispo Primaz da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil