Papa Francisco recebe no Vaticano o Primaz anglicano Justin Welby (Fonte:Agência Zenith)
Roma – A busca da unidade dos cristãos não é um objetivo de
conveniência, nem puramente formal, mas algo que Deus mesmo quer com
intensidade. Neste espírito, realizou-se no dia 14 de junho o encontro
oficial no Vaticano entre o Papa Francisco e o Arcebispo de Canterbury,
Primaz da Igreja Anglicana, Justin Welby.
O Santo Padre recebeu o chefe da Igreja da Inglaterra na Biblioteca
Vaticana, onde Welby entrou acompanhado pela esposa e pela comitiva.
Dirigindo-se ao Arcebispo de Canterbury, o Papa Francisco recordou
primeiramente o histórico encontro entre os seus respectivos
antecessores, Michael Ramsey e Paulo VI, em 1966, e agradeceu ao primaz
anglicano por ter rezado pelo bispo de Roma quando assumiu a liderança
da Igreja da Inglaterra.
Francisco e Justin Welby começaram o seu ministério com poucos dias de diferença, respectivamente em 13 de março e 21 de março.
O papa evocou a história “longa e complexa” das relações entre as
duas igrejas, “em que não faltaram momentos dolorosos”, mas que também
se caracterizou, nos últimos cinquenta anos, por um “processo de
aproximação e de fraternidade”, realizado tanto mediante o “diálogo
teológico, com o trabalho da Comissão Internacional Anglicano-Católica”,
quanto com as renovadas “relações cordiais e de convivência diária”,
que levaram a um “profundo respeito mútuo” e a uma “sincera
colaboração”.
Francisco expressou gratidão pelo “esforço sincero” da Igreja da
Inglaterra para entender os motivos que levaram o papa emérito Bento XVI
a criar um ordinariato para os fiéis anglicanos desejosos de voltar à
comunhão com Roma. “Eu tenho certeza”, disse o papa, “que isso permitirá
conhecer e apreciar melhor no mundo católico as tradições espirituais,
litúrgicas e pastorais que compõem o patrimônio anglicano”.
A busca da unidade dos cristãos, que levou ao encontro ecumênico
desta manhã, não é determinada por “razões práticas”, acrescentou o
papa, mas “pela vontade do Senhor Jesus Cristo”, que fez dos seus
seguidores “irmãos seus e filhos do único Pai”.
A oração ecumênica das Igrejas de Roma e de Canterbury “poderá
encontrar expressão na cooperação em diferentes esferas da vida
cotidiana”, em particular no que diz respeito ao “testemunho da
referência a Deus e da promoção dos valores cristãos”, numa sociedade
que parece colocar em discussão alguns dos “fundamentos da convivência”,
começando pela “santidade da vida humana” e pela “solidez da família
fundamentada no casamento”.
Ambas as igrejas devem engajar-se em prol “de mais justiça social, de
um sistema econômico a serviço do homem e do bem comum”, especialmente
“para os pobres, para que eles não sejam abandonados às leis de uma
economia que às vezes parece considerar o homem apenas como consumidor”.
O papa elogiou o arcebispo de Canterbury, em especial, pelo
compromisso “para promover a reconciliação e a resolução dos conflitos
entre as nações”, particularmente do conflito sírio. A paz e a graça,
acrescentou, são dons que os cristãos só podem oferecer quando “vivem e
trabalham juntos em harmonia”.
Ao terminar o discurso, o papa lembrou que a unidade entre os
cristãos, “tão sinceramente desejada, é um dom que vem do alto e que se
baseia em nossa comunhão de amor com o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.
Por fim, Francisco exortou a todos a caminhar “unidos fraternalmente no
amor, com Jesus Cristo como ponto de referência constante”.
Por sua parte, o arcebispo Welby fez referência às novas perseguições
contra os cristãos no mundo. “Enquanto conversamos, os nossos irmãos e
irmãs em Cristo sofrem terrivelmente a violência, a opressão, a guerra,
devidas ao mau governo e a sistemas econômicos injustos.
Se nós não
formos seus advogados em nome de Cristo, quem vai ser?”.
Citando as palavras de Bento XVI, Welby acrescentou que, apesar das
diferenças ainda significativas entre católicos e anglicanos, o
“objetivo é grandioso o suficiente para justificar a fadiga do caminho”.
Após o encontro, o Papa Francisco e o Arcebispo Welby trocaram
presentes e concluíram a reunião com uma oração em conjunto na capela
Redemptoris Mater.